terça-feira, 20 de outubro de 2009

Interpretação de texto

   O texto apresenta todos os elementos necessários para uma leitura preferencial. Temos que ficar muito atentos a esta leitura preferencial, pois ela se revela através de alguma escolha lexical (escolha de uma palavra), por meio de uma figuração ou um estilo apresentado no texto, etc. Precisamos ficar atentos para descobrir qual o processo de leitura utilizado para a fabricação do texto.


   O primeiro processo, leitura denotativa, tem um forte aspecto racional ou dicionarizado; Já a leitura conotativa tem por aspecto uma linguagem figurada ou emocional. Precisamos prestar muita atenção no texto, pois muitas vezes acontece que nos é apresentado um elemento, que se refere a outro elemento, uma outra idéia, outra construção. Se nos desviarmos da perspectiva quando lemos o texto, não conseguimos adquirir uma boa interpretação do texto e por conseqüente não conseguimos realizar uma boa prova.

   Precisamos obter os critérios para uma leitura inicial. Não podemos nos deixar levar o texto lendo uma, duas, três vezes, desatentamente, porque quando chegamos nas questões, obrigatoriamente devemos voltar no texto.
   Ora, não é muito melhor ler o texto ainda que mais demorado, mas com muito mais atenção do que lermos rapidamente e termos que repetir?
Fica claro então que precisamos ter uma leitura atenta do texto, para que possamos adquirir os elementos que o constituem e que são mais pedidos nas provas. São eles:

- Assunto: A palavra que mais se repete no texto, de forma direta ou indireta. Temos uma relação antonímica (aproximação) ou antonímica (afastamento). Se eu identifico estas relações, esses termos que aparecem o longo do texto, eu fundamento o assunto.

- Tema: Depois de identificado o assunto (que ocorre de forma natural no desenrolar do texto). Você encontra o tema. Por exemplo se alguém me pede para escrever sobre o BRASIL, nós temos o assunto somente, porém se alguém me pede para escrever sobre a MORTALIDADE INFANTIL BRASILEIRA, temos como tema a mortalidade infantil e como assunto o próprio Brasil. A temática é o afunilamento do assunto BRASIL.

- Tese: Somente se for um texto argumentativo. É a opinião do autor sobre o assunto, ou a explicação dele exposta ao tema apresentado. Seguindo a linha de exemplo, poderia ser algo assim: A mortalidade infantil brasileira ainda é reflexo de políticas públicas ineficientes. Reparem que ao dar meu parecer sobre a mortalidade infantil, eu tenho uma perspectiva, uma linha de pensamento sobre o tema.

- Argumentos: É a comprovação da tese, pois se fizermos uma tese sem argumentos, caímos no achismo -Eu acho que a mortalidade brasileira pode ser reflexo de políticas públicas ineficientes -, algo que não é conclusivo, que pode ou não ser verdade. É explicitamente necessária argumentações quando eu apresento uma tese no meu texto. Podemos construir como base do nosso argumento os elementos descritos abaixo.
   - Citações:Nada melhor do que comprovar a sua tese mediante a fala de alguém conhecido nacional ou interacionalmente.
   - Estatísticas: Números sempre comprovam o que estamos afirmando.
   - Comparações Geográficas: Por exemplo, como a mortalidade aqui no Brasil é diferente nos EUA.
   - Comparações Históricas: Por exemplo, como a mortalidade ao passar dos anos vem diminuindo no Brasil.
   - Comparações por fatos: Por exemplo, destacar notícias, citações que falam a respeito da mortalidade infantil no Brasil.
O que é mais importante é a comprovação da sua tese, não importa quais elementos serão usados você precisa mostrar que sabe o que está dizendo.

   Se por acaso você não localizou a tese, é porque o texto não é argumentativo. A tese é a opinião do autor. A posição que ele assume frente a problemática que está sendo apresentada.
Identificando no texto esses quatro elementos de um texto argumentativo, - Assunto, tema, tese, argumentos- Você consegue migrar bem para a interpretação.

   O processo de interpretação, se fundamenta principalmente no processo de reescrita. Você não pode encontrar elementos fora ou carentes dentro de um texto, por exemplo, sempre verifique que o enunciado está realmente de acordo coma abordagem apresentada pelo texto.

    Um exemplo do exemplo, este texto foi utilizado pela Fundação Carlos Chagas, para um exame da Caixa Econômica Federal:

    Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles. Não se trata da idade real de uns e outros, que pode até ser a mesma, mas dos tempos distintos que eles parecem habitar. Na agitação dos grandes centros, até mesmo a velhice parece ainda estar integrada na correria; os velhos guardam alguma ansiedade no olhar, nos modos, na lentidão aflita de quem se sente fora do compasso. Na calmaria das cidades pequeninas, é como se a velhice de cada um reafirmasse a que vem das montanhas e dos horizontes, velhice quase eterna, pousada no tempo.

    Vejam-se as roupas dos velhinhos interioranos: aquele chapéu de feltro manchado, aquelas largas calças de brim cáqui, incontavelmente lavadas, aquele puído dos punhos de camisas já sem cor — tudo combina admiravelmente com a enorme jaqueira do quintal, com a generosa figueira da praça, com as teias no campanário da igreja. E os hábitos? Pica-se o fumo de corda, lentamente, com um canivete herdado do século passado, enquanto a conversa mole se desenrola sem pressa e sem destino.

    Na cidade grande, há um quadro que se repete mil vezes ao dia, e que talvez já diga tudo: o velhinho, no cruzamento perigoso, decide-se, enfim, a atravessar a avenida, e o faz com aflição, um braço estendido em sinal de pare aos motoristas apressados, enquanto amiúda o que pode o próprio passo. Parece suplicar ao tempo que diminua seu ritmo, que lhe dê a oportunidade de contemplar mais demoradamente os ponteiros invisíveis dos dias passados, e de sondar com calma, nas nuvens mais altas, o sentido de sua própria história.

     Há, pois, velhices e velhices — até que chegue o dia em que ninguém mais tenha tempo para de fato envelhecer.
(Celso de Oliveira)

   Sobre o que trata este texto? Quais são as relações de semântica (sentido lógico) que o texto aborda? Qual é o assunto e o tema?

   São muitas perguntas a serem feitas por este texto. A sua compreensão é muito simples, desde que o texto seja cuidadosamente lido e interpretado. Podemos de início entender a palavra que mais aparece no texto -direta ou indiretamente- , e qual seria esta palavra? Velhice. A velhice é mencionada em todo o andar do texto, podemos identificá-la em cada elemento que o texto nos revela. Então, se conclui que conseguimos captar a fundação do texto, sua base, o assunto.

   Perceba que velho se constitui toda a perspectiva do texto, sem especificação.

   Já com o assunto em mãos vamos partir para o segundo elemento mais evidenciado no texto. Especificando nas linhas que temos podemos encontrar as relações semânticas ligadas a velhice. São palavras que definem toda especificação da perspectiva do autor, e elas aparecem o tempo todo, com constância. Já descobriu? É isso mesmo, Cidade e Campo. Interior e Metrópole. A velhice no campo e na metrópole. Pronto, descobrimos o tema.

   Estamos indo bem. Descobrimos o assunto e o tema, agora vamos procurar pelo terceiro elemento fundamental para um texto argumentativo, a tese.

   A tese nada mais é que a opinião do autor sobre o tema exposto por ele mesmo. Se você leu cuidadosamente o texto, vai perceber que na última frase escrita pelo Celso Oliveira, ele expõe de forma clara sua posição:

"até que chegue o dia em que ninguém mais tenha tempo para de fato envelhecer."

   Este é o posicionamento dele. E ele vai mostrando este posicionamento com base nos fatos que ele constatou ao longo do texto.

   É só. Isso é o que precisamos para interpretar todo o texto apresentado. Nós sintetizamos o texto, apresentamos uma leitura rápida e consolidada a respeito do texto. Vamos ver como eles cobram a interpretação do texto, já que todo o processo de interpretação de texto é um processo de exatidão:

   Observe e leia atentamente estas questões:

1. A frase ‘‘Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles’’ constitui uma:
a) impressão que o autor sustenta ao longo do texto, por meio de comparações.
b) impressão passageira, que o autor relativiza ao longo do texto.
c) falsa hipótese, que a argumentação do autor demolirá.
d) previsão feita pelo autor, a partir de observações feitas nas grandes e nas pequenas cidades.
e) opinião do autor, para quem a velhice é mais opressiva nas cidadezinhas que nas metrópoles.

   Achou a resposta? Está com dúvidas? Vamos de baixo para cima resolver as questões propostas.
- e) opinião do autor, para quem a velhice é mais opressiva nas cidadezinhas que nas metrópoles.
   Os argumentos sustentados pelo autor provam o contrário desta afirmação, pois já no começo do texto a frase "Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles." o advérbio plenamente indica que os velhos do campo parecem mais velhos, mais acostumados com a sua velhice, não oprimidos. Então podemos considerar que a alternativa e) é incorreta.

- d) previsão feita pelo autor, a partir de observações feitas nas grandes e nas pequenas cidades.
   Como assim previsão? O autor já argumentou sobre a plenitude dos velhos do campo, e além do mais, a previsão feita pelo autor nem é essa. Pode claramente ser lido que a previsão feita pelo autor é que haverá um tempo que não terá mais tempo para envelhecer, explícita na última frase do texto. Portanto, essa alternativa é incorreta.

- c) falsa hipótese, que a argumentação do autor demolirá.
   Muito pelo contrário. Os argumentos expostos pelo autor só confirmam a frase do enunciado do exercício. Alternativa incorreta.

- b) impressão passageira, que o autor relativiza ao longo do texto.
   Nós não temos nenhum elemento dentro do texto que relativiza a frase do autor. Não há nenhuma relatividade, ao contrário, nós temos dentro do texto argumentos que afastam cada vez mais a idéia de velhos na cidade e no campo. Alternativa incorreta.

- a) impressão que o autor sustenta ao longo do texto, por meio de comparações.
   Além de ser a última e correta, podemos comentar que esta alternativa é a única que fala que o autor "sustenta" a impressão do texto, e ainda mais, nós podemos até registrar outro elemento que são as comparações feitas da velhice da cidade e do interior, que o autor comenta, e que está impressa na primeira frase. Alternativa correta.


Viu como é simples? vamos prosseguir e passar para outro exercício:

3. Indique a afirmação INCORRETA em relação ao texto:
a) Roupas, canivetes, árvores e campanário são aqui utilizados como marcas da velhice.
b) autor julga que, nas cidadezinhas interioranas, a vida é bem mais longa que nos grandes centros.
c) Hábitos como o de picar fumo de corda denotam relações com o tempo que já não existem nas metrópoles.
d) que um velhinho da cidade grande parece suplicar é que lhe seja concedido um ritmo de vida compatível com sua idade.
e) autor sugere que, nas cidadezinhas interioranas, a velhice parece harmonizar-se com a própria natureza.

Vamos novamente começar a resolução das questões de baixo para cima:
- e) autor sugere que, nas cidadezinhas interioranas, a velhice parece harmonizar-se com a própria natureza.
   Notem que o autor vai identificando os elementos necessários para esta questão. Você se lembra do homem pica fumo, debaixo de uma jaqueira, combina admiravelmente... Então, podemos concluir que existe uma amálgama (relação) entre o velho e a jaqueira, entre o velho e o interior. Com essa base podemos concluir que esta afirmação é correta.

- d) que um velhinho da cidade grande parece suplicar é que lhe seja concedido um ritmo de vida compatível com sua idade.
   De fato. Quando o velhinho acena com sua mão com uma angústia querendo que o tempo se acalme, ele na verdade está fazendo um sinal (todo o conjunto, não somente sua mão acenando) representativo. Ele está representando uma súplica para que o tempo também pare. Afirmação correta.

- c) Hábitos como o de picar fumo de corda denotam relações com o tempo que já não existem nas metrópoles.
   Quando o autor do texto sugere essa relação de picar fumo de corda, ele está apresentando esta relação para a cidadezinha do interior, não temos nenhuma relação de picar fumo de corda para as metrópoles, portanto, a afirmação está correta.

- b) autor julga que, nas cidadezinhas interioranas, a vida é bem mais longa que nos grandes centros.
   Esta é uma questão confusa, porque nos remete a uma má interpretação da relação "plenamente" com "velhos da cidadezinhas do interior". Podemos confundir que "plenamente" significa longevidade, fazendo assim um grande erro e talvez até a perda da questão proposta pelo exercício. Notem que "plenamente" é relacionado no texto como uma forma de "parecer mais velhos", não de "estar mais velhos", e notem também, que no segmento desse parágrafo o autor escreve "Não se trata da idade real de uns e outros, que pode até ser a mesma, mas dos tempos distintos que eles parecem habitar.", tirando assim, a dúvida que possa aparecer na linha de pensamento do leitor. Se não lermos o texto atentamente, poderíamos cair nessa questão, portanto, esta alternativa está incorreta.

- a) Roupas, canivetes, árvores e campanário são aqui utilizados como marcas da velhice.
   Também uma questão de interpretação, podemos nos confundir com esta questão, pois às vezes nos tornamos tão obcecados em confirmar os elementos em TODAS as relações do texto que não prestamos atenção ao que a questão realmente quer dizer. Esta questão quer somente confirmar se existem REALMENTE esses elementos (árvores, campanário, roupas, canivetes) no texto, e não se eles estão em TODAS AS PARTES da tese. Se esses elementos não fazem parte da velhice do homem da cidade grande, isso não importa, o que importa é que o velho do interior usa. E no texto é revelado que o velho do interior utiliza esses elementos. Portanto esta alternativa é correta.

Notem que não é tão complicado assim essa relação de interpretação de texto.

Agora nós vamos passar para outro tipo de interpretação, a interpretação não-verbal.

   Sabe-se que os textos aão verbais aparecem - e muito - em concursos públicos e vestibulares. Um exemplo claro disso é a charge, que vamos ver no próximo parágrafo.

   Vamos estudar a charge de Quino - um cartunista argentino com uma veia crítica extremamente aguçada - em uma das suas famosas charges, a Mafalda.
   Mafalda é uma menina atravessando a alfabetização, criada por Quino na Guerra Fria, ela chega a ser cruel em suas análises.
   Nas tirinhas de Mafalda podemos observar que há vários esteriótipos de tipos sociais, através de seus amigos, cada um com sua peculiaridade.

Abaixo existe a personalidade de cada um.
- Suzanita: A feminina, mulher padrão. Esteriótipo social muito questionado por Mafalda.
- Felipe: Idealizador. Aquele que sonhador, que busca seus sonhos naquela referência ideológica.
- Manolito: Esteriótipo do capitalismo.
- Mafalda: Não representa nenhum destes esteriótipos, logo que ela é a crítica a esses esteriótipos. Mafalda faz críticas sociais, econômicas, críticas internas do seu país e externas. Temos um descolamento, uma frase extremamente adulta em uma criança de 5 anos de idade.
Vamos observar a charge de Mafalda abaixo:


   Antes de tudo vamos "ler" o conteúdo não verbal desta tirinha. Notem como Suzanita e Mafalda Conversam, nos três primeiros quadros, Suzanita aparece sorridente, carregando seu "filho", demonstrando que Suzanita é extremamente maternal, pois em todas as tirihas que Suzanita Aparece ela aparece maternal.
   É possível observar o sorriso de Suzanita e a cara interrogativa de Mafalda nos dois primeiros quadros.
   No terceiro quadro, Mafalda faz uma cara de não sei... Uma cara de questionamento.
   Porém no quarto quadro, Mafalda apresenta uma cara de desdém, enquanto Suzanita faz uma cara que antes Mafalda estava fazendo.
   Temos então uma conversa de duas crianças que Quino quis representar demonstrando uma crítica ao "padrão" do comportamento feminino. Enquanto Suzanita faz os caminhos de sua vida, notem que ela diz que vai casar e depois que vai ter filhos.
   Nessa transição de tempo (casar e ter filhos), Suzanita não apresenta nenhuma relação de profissão. Porém mesmo ela não tendo nenhuma profissão, ela vai comprar uma casa bem grande e um carro bem bonito, depois jóias e depois vai ter netinhos. Isso nos faz pensar que Suzanita tem em sua mente a idéia de ser a mulher "dependente" do marido.

   Sendo Mafalda criada na Guerra Fria, na época que o feminismo estava sendo processado, difundido e que as críticas estavam sendo geradas.

   Nós temos então, uma quebra do paradigma da mulher, que deveria ficar em casa enquanto homem trabalha, essa quebra é feita por Mafalda, que indica que planejar a vida assim, não é ter uma vida.

   Porque uma vida para Mafalda é correr riscos, não saber como vai andar as coisas, não ter certeza que tudo vai ocorrer da maneira que queremos, de se aventurar e para mostrar essa idéia Mafalda nos remete a idéia de que a vida planejada por Suzanita é um fluxograma, do paradigma, do padrão. E o desejo de Mafalda é que esse paradigma deve ser rompido.

   Este é um texto não-verbal e verbal, um misto, que deve ser lido de todas as formas, no aspecto verbal, da oralidade, e no aspecto não-verbal, no gesto, nas expressões faciais, nas cores trabalhadas, tudo é texto que pode ser "lido".

Atenção nesses elementos. Nós temos a identificação do assunto, do tema, da tese e dos argumentos.
   O assunto é Mulher, trata-se do tajeto do ser feminino.
   O tema é A Mulher e o Seu Esteriótipo.
   A tese ou posicionamento do autor da tirinha (Quino), expõe que este paradigma deve ser quebrado, na fala de Mafalda, o paradigma é um defeito "Não é vida, é fluxograma".
   O argumento pode ser visto de forma que a vida não pode ser vivida da maneira que nos foi projetada, deve ser vivida da maneira que nós percebemos.

Fico por aqui, até o próximo post!

Este post foi a duplicação adaptada para o blog de uma aula on-line da Professora Rose Sampaio.
Não posso postar as aulas porque elas contém direito autoral.

3 comentários:

  1. muito esclarecedor seu texto, parabéns... Rose inclusive é minha professora, as aulas são realmene fantasticas.

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  2. muito mais muito bom o texto parabéns mais pessoas assim deviam se empenhar a fazer o que você faz parabéns.........

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  3. adorei a explicação.. me ajudou a fazer um trabalho sobre concepção de sentido....

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