quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Tipologia Textual - Dissertação, Narração, Descrição e Argumentação

Nós temos duas perspectivas que se diferem no momento de identificação do texto, a primeira, tipologia textual e a segunda, gênero textual. Mas antes de identificar esses termos, precisamos saber o que é texto, achamos que o texto é somente o texto verbal, mas temos textos não-verbais. Todavia vamos focar nas tipologias e gêneros do texto verbal.


Definição de texto:
"O texto será entendido como uma unidade lingüística concreta, que é tomada pelos usuários da língua, em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão. " (Koch e Travaglia, 1989).

Esse conceito serve para textos não-verbais. O texto verbal vai nos dar ferramentas para sua análise, tudo o que precisamos para identificar um texto está no próprio texto.

Nós temos dois tipos de leitura, a denotativa e a conotativa. É importante ter em mente o que são esses tipos de leitura, porque alguns textos se não tiverem essas concepções separadas, não conseguem progredir em nossa cabeça.

Um texto com leitura denotativa é a leitura feita com base no dicionário, possui sentido real e um texto com leitura conotativa ele precisa de uma relação de figuração, alguns textos trabalham muito com a conotação, e é justamente por isso que não conseguimos compreendê-lo corretamente, porque queremos lê-lo de acordo com a denotação.

Visto essas perspectivas, vamos entender o que é tipologia e gênero textual.


- Tipologia: Modo de formulação discursiva.
- Gênero: O modo de apresentação social: carta, artigo, e-mail, receita...
- Estrutura textual: Prosa, verso.

O que é exatamente esse modo de formulação discursiva?
Tipologia textual é a forma como um texto se apresenta. As tipologias existentes são: descrição, narração, dissertação, exposição, injunção, diálogo e entrevista.

Essas tipologias são apresentadas em vários gêneros, que é a forma que o texto será apresentado para a sociedade. Cartas, e-mails, receitas, tudo tem sua razão social.

Um gênero bastante utilizado nos concursos públicos é a crônica. Identificando tipologias textuais nós precisamos aprender identificar as diferenças em cada tipologia. Acontece que os textos podem conter várias tipologias, é possível colocar pequenos pedaços de argumentações, dissertações, narrações, etc. Porém é preciso identificar a tipologia predominante no texto, isto é, a tipologia mais usada no texto.

Dois exemplos de tipologia textual:

Descrição
retrato de ambientes, pessoas, fatos. Há uma ausência de evolução temporal. É como se fosse um tempo estático. Cuidado, às vezes apresentam uma descrição de fato e identificamos como narração.

Narração
Há um foco de acontecimento, diálogos, um narrador. Apresenta um uso constante de verbos para dar ação ao texto, ou seja, apresenta-se uma evolução do enredo com conflito e clímax.

Um exemplo bem ilustrativo se eu falo para vocês que estava à beira da orla num dia de chuva, quando um carro passou e me molhou inteira, enquanto passava me direcionando na casa daquele paquerinha, isso é triste mas acontece, esse texto é narrativo ou descritivo?

vocês perceberam a evolução do enredo? vocês indicaram um conflito? um clímax?

Reparem que é um tempo estático, é meio parado, é aquele momento que eu me molhei e não fui visitar aquele paquerinha, não tenho evolução de enredo neste texto, tenho indicações de um texto narrativo, porém ele é predominantemente descritivo, utilizando elementos necessários para a narração, porque para um texto narrativo, é necessário muitos elementos descritivos.

Um exemplo de texto narrativo são novelas, se você perceber há uma evolução de acontecimentos. Nós começamos o enredo da trama, sem saber quem é bom ou mal. Com a evolução da trama, o conflito se intensifica, a história vai se emaranhando, e no final descobrimos que quem era bom era mal e mal era bom. Onde fica o clímax sendo desejado, a trama se desenvolve, procuramos o ponto máximo da trama, onde o bonzinho toma o seu lugar na sociedade. É meio maniqueísta (o bonzinho e o malvado), mas são assim quase todas as novelas.

Um exemplo bem interessante pode ser visto abaixo:

Fugiu Com a Novela
Vanessa da Mata
Composição: Vanessa da Mata
Eu perdi o meu amor para uma novela das oito
Desde essa desilusão eu me desiludi
O meu coração
Palpita aparte poupando-me de um pouco de sonhos
Depois desse desengano

E aquela atenção que antes eu ganhava
Se repartiu ao meio
Mulher parada
Ligada em outra história hipnotizada
Trocou o nosso caso que tava no tom

Eu vivia no jogo
Ela me esperava
Quando eu pedia fogo ela não negava
Se eu tivesse com outra ela achava bom

Eu perdi o meu amor para uma novela das oito
Desde essa desilusão eu me desiludi
O meu coração
Palpita aparte poupando-me de um pouco de sonhos
Depois desse desengano

Quando fomos morar juntos ela me adorava
Cozinhava, passava, me alisava
Eu contava piada ela gargalhava
Metia a mão nela e ela perdoava

A vida era boa ela não reclamava
Agora vive longe, não sei mais nada
Fugiu da nossa casa com a televisão

Essa música tira do foco a perspectiva da mulher com a novela, que fazia as mulheres se tornarem alienadas, e coloca a perspectiva de que a novela também revela a nossa identidade, revela a nossa força e ela nos dá exemplo de mulheres que são marginalizadas, mulheres que apanham e superam por causa da novela.
Notem que o eu-lírico (eu poético) é um eu masculino, frustado porque não sabe o que fez para a mulher largá-lo, você percebe um conflito? uma evolução de enredo, ou só percebemos um momento em que ela o abandonou? Notem que tem muitos elementos narrativos, mas não temos o principal deles, que é justamente a evolução do enredo, percebemos um momento, e a descrição desse momento, se você não consegue perceber esse momento, preste atenção no próximo exemplo que é narrativo.

O Meu Guri
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)

Analisando o texto, podemos ver elementos lexicais (Escolha da palavra Léxico=Palavra). Chico Buarque escolhe muito bem as palavras, são escolhas atentas aos defeitos de sentido que elas vão apresentar no nosso texto. A música começa com "Seu moço", é um eu-feminino que chama o outro de seu moço, quem é que vai chamar de seu moço? Temos uma referência a uma linguagem que indica uma relação de poder.
Seu moço não é utilizado por elementos sociais (pessoas) que praticam certo poder. São elemento pessoais, da periferia, marginalizados. E é exatamente por isso que Chico Buarque chama de seu moço. É uma mulher, que está dialogando com uma pessoa com um nível social acima dela. Ela é muito jovem, quase menina, e seu filho nasceu em uma hora que não era para nascer.
Elas não estava preparada para gerar uma vida. Esse menino nasce com cara de fome. Percebam que há uma evolução de enredo desde quando ela está grávida, tem seu filho, gera seu filho no ventre muito frágil, e passam por uma vida de carẽncias. Ela é menina, porque ela indica, "Eu coloco ele no colo, para ele me ninar", porque também sou menina, preciso de recolhimento.
Ela não é reconhecida socialmente, pois vai indicando isso, no exemplo:

"Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar"


Eu tenho a escolha de um advérbio (finamente), ele são desnecessários sintaticamente, mas semanticamente são de extrema importância. Quando ela diz finalmente, não é a toa, é para mostrar ansiedade que ela tem de ser reconhecida socialmente. A letra de Chico, é encerrada com a morte dele, é um menino que aparece com tarja e as iniciais, quem aparece com tarjas e as iniciais nos jornais? Meninos carentes.
Notem que a música tem elementos muito fortes, tem uma evolução de enredo, um clímax, há um diálogo, não tenho um momento estático, a mulher está percebendo que o menino está dando lhe dar o que a sociedade não ofereceu a eles. Há evolução, diálogo, conflito e clímax, então, temos um texto predominantemente narrativo.
Tomem cuidado, o texto é

PREDOMINANTEMENTE

narrativo, porque para que o texto seja produzido, é necessário agregar outros elementos, outras tipologias, um elemento descritivo, uma tese, nós percebemos essas relações.

Uma outra tipologia textual é a dissertação. Neste tipo prevalece a defesa de uma idéia central, de um ponto de vista sustentado por argumentos de comprovação: comprovações,dados,fatos,citações. Tais argumentos reforçam a veracidade da tese apresentada. como a descrição, tem-se um tempo estático.

Algumas pessoas consideram dissertação como gênero, não como tipologia. Isso acontece porque a dissertação tem como fundamento maior uma tese (o posicionamento ou opinião do autor), porém um texto argumentativo também tem tese, e para achar um texto argumentativo não é necessário estar num texto argumentativo numa dissertação, você pode achar um texto argumentativo em uma narração, em uma carta, na própria música do Chico podemos encontrar elementos argumentativos, a banalização social em relação a esses meninos e meninas carentes, a perpetuação de situações, a música de Chico é um texto argumentativo, porém predominantemente narrativo.

Um texto Dissertativo tem como princípio uma estrutura a ser apresentada:

- Apresentação da tese (O que você quer passar parar o leitor)
- Apresentação dos argumentos (Como você prova o que quer passar)
- Evolução e consolidação desses argumentos.
A argumentação da sua tese PRECISA ser consolidada.
Alguns indicam que na dissertação você não deve usar primeira pessoa no singular.
Porém PRESTEM ATENÇÃO:

Sugere-se que não seja usada a primeira pessoa no singular DE FATO. Para não cairmos no ACHISMO (incerteza no que está dizendo). No entanto, em algumas provas do CESPE, eles apresentam textos que indicam primeira pessoa no singular e mesmo assim, eles identificam como texto dissertativo.

ESSA É UMA ORIENTAÇÃO EXTREMAMENTE IMPORTANTE, POIS QUEBRA OS PARADIGMAS QUE NOS PASSARAM NO LONGO DO NOSSO PROCESSO ACADÊMICO. POIS SEMPRE NOS ENSINARAM QUE DISSERTAÇÃO NÃO APRESENTA PRIMEIRA PESSOA NO SINGULAR.

FIQUE MUITO MUITO MUUUUIIITOOO ATENTO COM ISSO!!!

Veja um exemplo:

Um homem do século XVI ou XVII ficaria espantado com as exigências de identidade civil a que nós nos submetemos com naturalidade. Assim que nossas crianças começam a falar, ensinamos-lhes seu nome, o nome de seus pais e sua idade. Quando arranjarem seu primeiro emprego, junto com sua carteira de trabalho, receberão um número de inscrição que passará a acompanhar seu nome. Um dia chegará em que todos os cidadãos terão seu número de registro: esta é a meta dos serviços de identidade. Nossa personalidade civil já se exprime com maior precisão mediante nossas coordenadas de nascimento do que mediante nosso sobrenome. Este, com o tempo, poderia muito bem não desaparecer, mas ficar reservado à vida particular, enquanto um número de identidade, em que a data de nascimento seria um dos elementos, o substituiria para uso civil. O nome pertence ao mundo da fantasia, enquanto o sobrenome pertence ao mundo da tradição. A idade, quantidade legalmente mensurável com uma precisão quase de horas, é produto de um outro mundo, o da exatidão e do número. Hoje, nossos hábitos de identidade civil estão ligados, ao mesmo tempo, a esses três mundos.
Philippe Ariès. História social da criança e da família.
Dora Flaksman (Trad.), p. 1-2 (com adaptações).

Isso é um texto apresentado pela ABIN organizado pelo CESPE. Este é um texto dissertativo-argumentativo, pois, indica uma tese comprovada por maios de argumentos, a tese é a indicação de que nós somos representados por três mundos. Nós temos uma tese um posicionamento do autor, que vai ser sustentada durante o texto.
Qual é esse posicionamento? Nós pertencemos a três mundos, quais são esses mundos?

"O nome pertence ao mundo da fantasia, enquanto o sobrenome pertence ao mundo da tradição. A idade, quantidade legalmente mensurável com uma precisão quase de horas, é produto de um outro mundo, o da exatidão e do número."

Note que conseguimos destacar no texto um fragmento que consolida a tese do autor, nós TEMOS que conseguir essa identificação. Quando não conseguimos, é a mesma coisa de dizer que o texto NÃO É um teto argumentativo, não é um texto dissertativo-argumentativo, é um texto meramente expositivo, descritivo.

Temos dois tipos de dissertação:
- Uma dissertação argumentativa, que indica uma tese como esta que vimos.
- E uma dissertação expositiva, que é justamente uma dissertação de cunho descritivo.
Espero ter contribuído com seus estudos, até o próximo post!

Este post foi a duplicação adaptada para o blog de uma aula on-line da Professora Rose Sampaio.
Não posso postar as aulas porque elas contém direito autoral.

23 comentários:

  1. super instrutivo :D
    gostei muit do blog
    By: Juanitto Moreira (www.vimivi.blogspot.com)

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  2. Muito interresante , eo pior que eu ja vi e nem lembro mais ! Estudar muito

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  3. gostei me ajudou bastante

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  4. Estou estudando para concursos e as informações contidas aqui foram muito úteis! Obrigada!

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  5. INFORMAÇÕES IMPORTANTÍSSIMAS PARA NOSSO APRENDIZADO.

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  6. gostei muito dessas dicas,com certeza me ajudarão bastante futuramente!

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  7. ótimooo, adoreiii,era tudo o que eu estava precisando.... :D

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  8. esclareceu,o que eu intuia, mais nao havia percebido a segurança das diferenças entre elas. foi narrativamente dissertador para proximas argumentações. obrigada.

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  9. Muito boa explicação pois e de facil compreenção .. Obridada!

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  10. Obrigada pela dica , vai ajudar bastante futuramente .

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  11. Obrigada pela dica , vai ajudar bastante futuramente .

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  12. Texto explicativo com uma linguagem coloquial. Fica fácil de entender. Obg

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  13. Adorei! Me ajudou muito

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  14. estou estudando para o senai e vai cair gêneros textuais obg pela ajuda

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  15. Foi muito útil. A banca que farei a prova pede muito tipologia textual. Obrigada pela ajuda...

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  16. ta sendo muito bom pra mim rever vou precisar muito obg te me ajudando muito

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